Luísa Jeremias, Jornalista desde 1992 e Diretora de algumas das mais importantes publicações tidas por “cor-de-rosa”, publicou recentemente o livro Planeta Cor-de-Rosa. Onde, entre outros temas refere a importância de Herman no novo panorama de comunicação digital.
Parar é morrer
Quer um bom exemplo para falar sobre esta nova realidade?
Herman José.
Herman acha que a “profissionalização” das redes sociais será inevitavelmente o futuro. E nem sequer está muito preocupado com estes youtubers milionários que espalham a ignorância entre os miúdos.
– A Luísa lembre-se lá do que consumia quando tinha a idade deles? – dizia-me um destes dias. Olha, eu lia fotonovelas que podem ser tão intelectualmente pornográficas como um youtuber a mastigar tampas de garrafas… Herman José é um caso digno de análise tornou-se um herói de adolescentes para muitos adolescentes. Como? Muito simples. Adaptou-se às novas plataformas e agradou a quem o queria ver (ainda ou pela primeira vez). E não é que ganhou fãs? Herman conta, com muita graça, a história da sua entrada no Instagram e do êxito que começou a alcançar a Rui Unas, exatamente no canal de YouTube deste, nas populares entrevistas do Maluco Beleza – curioso como tudo é digital e não Material, não é?…
Na dita entrevista, Herman recorda que a sua “nova vida“ na rede social começou a “por acaso“, na altura em que o Salvador Sobral ganha a eurovisão, e a partir de uma conversa que tinha tido com uma daquelas “bichas fanáticas“ do festival, que sabem as músicas todas de cor, de todos os anos. “Descobri no Snapchat aquelas bocas enormes e fiz aquela personagem“, relata a Unas. Acrescentou a #bxafestivaleira, o seu novo boneco digital – já não precisava da televisão para nada para criar bonecos – aqueles seus pozinhos de perlimpimpim, que só ele é capaz de usar, o seu humor cáustico, britânico e, dessa mistura do novo com a sabedoria, o “mundo“ e a graça natural, nasceu um novo Herman numa nova plataforma onde somou fãs e se reinventou.
“Quando dei por mim, tinha a Filomena Cautela no 5 Para a Meia-Noite a gritar: “Diana, fazes cá muita falta, Milheri“, recorda Herman ainda a Unas. A frase era evidentemente de Herman mas tanto podia ter sido dita na televisão, num dos seus muitos sketches, como ali, na net.
Só que a sua vida no mundo virtual começa muito, muito antes da #bxafestivaleira do Instagram. Há mais ou menos 10 anos, quando foi abordado pelos primeiros miúdos que tinham descoberto os seus sketches antigos, muitos ainda do tempo de O Tal Canal. Onde? No YouTube, pois claro!
“A minha vida divide-se em três grandes capítulos “, explicou-me numa serena na tarde de domingo, quando já descansara após uma viagem até Braga, para mais 1 espetáculo. “O primeiro momento, em que sobrevivia a fazer espectáculos ao vivo, que detestava, e fazia televisão. O segundo, quando o Moniz me chama para estar na televisão em exclusivo e me paga para isso, o que me permitiu deixar os palcos. Essa fase termina no momento de grande infelicidade no qual pairava sobre nós aquela preocupação constante dos nomes e das audiências. E foi isso que me fez entrar no terceiro capítulo que é o regresso aos palcos. E é aí que percebo que tem muitos miúdos muito novos para seguirem-me. “Como? “ Porque iam com os pais ao espectáculos – uns instigados, evidentemente, outros porque já me tinha visto no YouTube e gostavam foi assim que eu percebi que me tinham descoberto por outros meios e que a televisão não era precisa para nada para essa gerações.”
Passaram assim a acontecer fenómenos que muito o divertiam como de, numa certa noite, depois de um espectáculo para a comunidade portuguesa em Madrid, ter três pirralhos de sete, 8 e 12 anos que no momento de pedir autógrafos depois do show estavam virados a pedir fotos a seu lado porque o conheciam como personagem do Instagram.
“Isso é que me surpreendeu. Foi o fenómeno Instagram“, assume. “Porque o que faço, com aqueles filtros que descobri no Snapchat, não é mais do que a continuação das brincadeiras dia filho único, que tinha no meu quarto quando era criança. “ Ou o que começou a fazer em televisão, quando inventou as personagens de O Tal Canal. “Nessa altura ainda não havia equipas a escrever textos de humor. O meu trabalho era solitário e sem concorrência. Agora, no Instagram é igual. Por isso a criatividade que ali se encontra está à vista, não depende de ninguém.
Herman “estupidificou-se “ para chegar a mais gente e mais jovem? Pelo contrário. Evoluiu. E ainda por cima retirar o maior prazer do que faz. Usar as novas ferramentas que tinha ao seu alcance em vez de se fechar na redoma do “ já sei tudo, não preciso de aprender nada “ e começou a a reinventar-se. Criou personagens e mais personagens. A pergunta é: gosta do que faz? “ Adoro!“, afirma. E não diz isso porque parece bem. O contacto com o seu público – seja ele não espectáculo ao vivo ou virtualmente nas redes sociais – dá-lhe real prazer. Porque o obriga a ser criativo.
Luísa Jeremias em Planeta Cor-de-Rosa, Edição Casa das Letras